A leitura e
os livros na minha vida
Primeiro,
vieram as letras.
Depois,
as palavras.
Palavra
a palavra, as frases foram surgindo.
E a
leitura cedo chegou à minha vida!
Lembro-me,
de menininha, ficar curiosa a olhar para aqueles símbolos negros enquanto o meu
pai lia o jornal. E de, estendida em cima da sua alta mesa de trabalho onde
ele, ao domingo, estendia aquelas folhas gigantes do “Diário de Notícias”, lhe
perguntar “Que letra é esta?”, “O que é que está aqui escrito?” E,
naturalmente, sem dar por isso, pelos meus seis anos, lá ia juntando letras uma
a uma, formando palavras e lendo frases…
De
maneira que, antes de entrar para a escola primária, já lia!
Está
bem presente o meu primeiro dia de aulas, a 6 de outubro (sim, que naquela
altura o verão era comprido e as férias também), quando ao fim da tarde, na
companhia de outra colega estreante nas lides escolares, cheguei feliz junto da
minha mãe que então estava no campo a vindimar, pronta para descrever aquela
experiência única: tinha escrito letras, tinha lido, tinha deixado para trás as
páginas que ensinavam a conhecer as letras e a juntá-las e ficado na segunda
parte do livro de leitura, aquela destinada aos textos que tinham como
protagonistas o Pedro e a Rita!
Os
livros, esses também não tardaram em chegar!
Naquela
altura, os tempos eram difíceis, as crianças não recebiam livros desde que
nasciam e, para muitos, eram objetos de luxo. Eu também não os tinha aos montes,
sobretudo os adequados à minha idade, mas o bichinho da leitura esteve sempre
presente e sempre encontrei estratégias para poder ler. As amigas eram um belo
recurso, daí que, regularmente, tivesse em casa livros emprestados.
Durante
a minha infância e juventude, as experiências de leitura foram muitas e
variadas, desde os infantis aos juvenis, passando pelas bandas desenhadas, os
livros de cowboys (aos quadradinhos,
mas, sobretudo, os narrativos, tipo romance) e, até, as famosas fotonovelas da
época, para passar também pelos clássicos, enfim, era o que aparecia.
E
dessa altura guardo também vários episódios engraçados associados aos livros,
como, por exemplo, fazer as tarefas que os meus pais me atribuíam rapidamente
(e, por vezes, de forma aldrabada) para ir ler mais depressa, ou levantar-me de
madrugada, quando ainda mal despontava uma ténue luz matinal muito ao longe, e
ir para a janela tentar continuar a ler o livro interrompido à noite, ou ler
numa tarde um livro de 350 páginas porque tinha de o devolver no dia seguinte,
ou, pior que tudo, queimar um casaco de malha colocado em cima de um candeeiro
para atenuar a luz do quarto à noite e os meus pais não notarem que estava a
ler até tarde…
Hoje,
não precisaria de tanta imaginação. As criancinhas acumulam pilhas de livros
atrativos de todos os géneros e formatos, os jovens continuam a colecioná-los,
as tarefas domésticas já não têm o peso e a imposição dos velhos tempos e… a
maioria dos pais deseja que os filhos leiam.
Obviamente
que os livros continuaram a ser uma presença importante na minha vida e não
saberia viver sem eles. Durante a minha existência muitos foram já os livros
lidos. Desde sempre, até hoje, nunca lhes consegui resistir. A sensação de
entrar numa livraria, olhar para eles, tocar-lhes, apreciar os títulos e as
capas, folheá-los, ler pequenos trechos é única e insubstituível. Continuo a
fazê-lo sempre que posso. E atualmente, em que a ação banal de ir às compras ao
supermercado permite também uma passagem pelo mundo dos livros, os meus passos
são sempre irresistivelmente atraídos para esse espaço mágico, mesmo que o
tempo disponível esteja contado ao segundo. E, não raras vezes, também sou
irresistivelmente dominada pelo desejo de levar mais um para casa!
Prof.ª Ana Paula Graça
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