“O livro é um amigo, por isso trata-o bem”, esta é uma das frases que
preencheu a minha infância, algo que o meu pai constantemente me dizia, Daí, eu
não ter entendido a palmada que apanhei, quando um dia ao chegar da missa, o
meu pai deu de caras com as lombadas dos seus preciosos livros todas escritas!
Afinal, se um livro era um amigo, havia que brincar com ele; eu assim o fiz e
convenci também o meu irmão a fazê-lo. Na verdade, eu sempre pensei que estava
apenas a acrescentar mais histórias às que me estavam vedadas, por ainda não saber ler. Devia ter
por volta de três anos e os livros eram para mim um mistério encantador do qual
só os adultos tinham a chave. De lá saíam conversas entre animais, feitos
grandiosos de heróis antigos, magias e sítios fantásticos…tanta coisa. Foi
então que aprendi também que a nossa língua vem do latim e do grego e tive o
prazer e o privilégio de ouvir da boca do meu pai, pedaços da “Odisseia” de
Homero ditos no original, ou fábulas de Esopo na língua de outros tempos.
A minha mãe diz que eu aprendi a ler pelas legendas da televisão; se ela
diz é porque deve ser verdade. Na realidade, não me lembro de ver televisão sem
ler as legendas, sim, porque naquele tempo não havia dobragens! Mas aquele que
eu considero ser a minha verdadeira entrada no mundo da leitura, foi o momento
em que, tendo entrado há pouco tempo para a escola primária, descobri um livro dos cinco, “Os cinco no
farol”, guardado no quarto dos meus pais para oferecer a um amigo que ía fazer
anos daí a pouco tempo. Peguei nele
secreta e religiosamente e comecei a ler. Não consegui parar. Estava
incontrolavelmente viciada! Claro que para o meu amigo teve de ser comprada
outra prenda e, para mim, mais livros daquela coleção.
Todas as minhas semanadas serviam para comprar livros e eu vivia
aventuras e conhecia lugares extraordinários a toda a hora. Os livros levaram-me
também a apaixonar-me pelas pessoas, porque me mostraram a variedade de
personalidades, de modos de pensar e sentir que povoam o mundo. Assim,
desenvolvi uma enorme tolerância pela diferença e uma certa facilidade em
comunicar com os outros que, de outra forma, talvez não possuísse. De facto, os livros têm sido um amigo, um
amigo que me desvenda as portas de mundos reais e imaginários e me deixa criar
histórias conjuntamente com o seu autor. Afinal, as histórias são escritas pelo
seu autor e recriadas por cada um de nós, os seus leitores.
Ainda hoje, embora ande sempre a correr, eu tenho algum tempo para
ler, cada dia um bocadinho; é uma
espécie de alimento essencial, como um belo de um pequeno almoço! Acredito que
há, para cada um de nós, um livro que nos despertará o gosto pela leitura. É
claro que para o encontrar poderemos ter que percorrer um longo caminho ho. Não podemos desistir, porque como dizia o meu
pai “ Um livro é um amigo”.
Prof.ª Inês Santos
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