“Insetos em
Missão Ambiental” de Marília Ascenso
Apresentação
do livro na Biblioteca Municipal de Leiria, a 9 janeiro de 2016
Marília Ascenso, está
novamente, de parabéns com a publicação do livro infantil “Insetos em Missão Ambiental", assim
como pela forma como consegue divulgar a sua obra, dando ênfase à sua criatividade e ao seu lado artístico, centrada na
motivação das crianças, através da representação
dramática, da música, de uma linguagem
simples (mas cuidada), um sorriso
aberto e um olhar simpático com
que consegue comunicar as emoções às
crianças falando-lhes de assuntos de
extrema importância.
Agradeço, Marília, o convite para estar presente na
apresentação da sua mais recente obra na biblioteca do nosso Município, a forma
como articula o seu prestigiado
trabalho com o Agrupamento de Escolas
Henrique Sommer, Maceira, (a terra que o seu coração adotou) e assim como
as palavras que me endereçou no convite feito, para participar com algumas
palavras sobre o livro, e diz a Marília como tão “eloquentemente” sei fazer…Não
pretendendo fazer uma “troca de galhardetes”, penso que o advérbio utilizado é exagerado
e não cabe nas apreciações que consigo fazer da análise da sua “arte” de “bem escrever”, “de bem dizer”,
“de bem desenhar” e “de bem pintar”. A repetição do advérbio
“bem” é expressão daquilo que a Marília sabe fazer “eloquentemente”. É a
Marília, e não eu, que merece esta palavra, pela forma como “eloquentemente” concebeu, escreveu, ilustrou e nos
apresentou o seu mais recente “rebento”
(pois acredito que os livros que escrevemos são como nossos filhos): são fruto
de muito amor, carinho, dedicação e trabalho árduo…são o nosso orgulho e a
nossa paixão…
“Insetos em Missão Ambiental” tem a marca da artista plástica nas ilustrações, cuja plasticidade e estética não está nos meus horizontes comentar. O meu papel de
observadora comum, só me permite o manifestar que, ao olhar para cada ilustração, cada pormenor, tudo se conjuga na perfeição: as formas, as cores, as pinceladas de
vida, a pureza que transparece aos olhos de crianças, mesmo quando já são
adultas!...
“Insetos em Missão Ambiental”, parece dar continuidade à
temática do primeiro livro que lançou “Insetos em Missão Especial” e continua a
marcar o estilo utilizado na “Joaninha Quadrada”, que tive o gosto de
apresentar, também, a seu convite. A mesma
doçura e pormenor nas ilustrações e a sensibilidade
na abordagem de assuntos tão importantes no mundo contemporâneo em que vivemos.
Estive a
refletir na forma de me dirigir a esta simpática plateia, de modo a não me
tornar muito cansativa, mas conseguir sintetizar, fazendo jus ao que realmente considerei
relevante no final da leitura aturada que realizei, da análise literária a que
procedi, tanto ao nível da forma, como do conteúdo. No plano do texto, ocorreu-me, então, a clássica dicotomia “coração/cabeça”,
ou dito de outra maneira, “emoção/
razão”.
Vou começar
pela última enunciada – a “cabeça” ou a “razão”. A este nível,
emergiram três aspetos na minha
mente: o tema tratado, o género
literário utilizado e o aspeto
pedagógico-didático que envolve a
mensagem.
- O tema tratado: a ecologia e a responsabilidade
individual de cada cidadão na preservação do meio ambiente. A atualidade e a pertinência do
tema despertam-nos para a racionalidade
de termos de preservar a Natureza, pois a Humanidade está a colocar em risco a
sua própria sobrevivência e a do nosso Planeta. O tema tem tanta pertinência que, depois de anos de
negociações e de hesitações, em Julho de 2015, em Paris, representantes de 195 países disseram "sim" a
um novo tratado internacional, que envolverá todas as nações num esforço
colectivo para tentar conter o aquecimento global. A educação ambiental deve ser encarada como uma missão dos dirigentes mundiais, da nossa tutela, da escola, da
família e dos indivíduos. Também estes insetos estão em “missão ambiental”.
- O género literário utilizado, a narrativa. As categorias da narrativa são tratadas com uma racionalidade técnica: o tempo, o espaço, as personagens, o
narrador, as sequências narrativas, os momentos de pausa e os momentos de
avanço, o uso da descrição e o uso do diálogo, o caráter fechado da narrativa com
introdução, desenvolvimento e conclusão, o estilo tão bem marcado da autora… A
narrativa utilizada com caraterísticas de fábula deixa bem presentes a
moralidade da história.
-O aspeto pedagógico-didático que envolveu
a mensagem. Para além de uma história que trata de um tema tão importante, se
quisermos ensinar a uma criança o que é a metodologia
de projeto, esta história poderá ser bem ilustrativa do mesmo: identifica-se um problema através de um
brain storming ou chuva de ideias (o Louva-a-deus, o
Pirilampo, a Pulga, o Gafanhoto, a Formiga colocam as questões que os afligem),
explicita-se o mesmo (o Caracol, um
pouco mais tarde, porque tem as caraterísticas de um animal lento, porém, tem
uma fala de génio na história na página 25), forma-se uma equipa de trabalho - os “Insetos em Missão Ambiental”- e, colaborativamente,
procura-se encontrar a melhor solução,
tendo em conta os recursos à
disposição, unindo esforços para a intervenção
possível para solucionar o problema. Definem como estratégia unirem esforços para resolver
dinâmica mas, pacificamente, o problema, sem causarem grandes atritos pelo
causador do mesmo – os humanos. Realizam atividades de limpeza,
campanhas cujo “slogan” é “Aldeia
limpa…aldeia saudável”, preocupam-se com a separação dos lixos e com a
reciclagem. Sempre de mente aberta, acolhem
novas ideias, como é o caso da forasteira sonhadora Cigarra – que corre o
mundo com o seu voo alto e que lhes sugere estabelecerem
prioridades (1.º tratar de diminuir a fumaça negra; depois, preocuparem-se
com o contolo do lixo) e dividirem-se em 3 grupos para fazerem o trabalho.
Também acolhem a ideia do Louva-a-deus que sugere que procurem um novo
elemento, a Engenheira Aranha, que teça teias a serem colocadas nas
chaminés poluentes a fazer de filtros.
(São elementos caraterizadores do Trabalho de Projeto: a identificação do
problema, o estabelecimento de prioridades, adefinição de objetivos,
estratégias, atividades, no quadro dos recursos disponíveis, o trabalho
colaborativo e a abertura a novas parcerias).
Mas o que verdadeiramente nos encanta é o outro lado da dicotomia: o coração, ou seja a emoção.
Esta vertente é utilizada com
mestria:
- A fórmula mágica de abertura “era
uma vez”, abre as portas da imaginação, do sonho, da emoção…
-As personagens são humildes, mas dignos, insetos e bicharocos – seres muitas vezes pouco
relevados pelos seres humanos: o Louva-a-deus (com a sua caraterística de
camuflagem - mudar de cor consoante o ambiente em que se encontra), o Pirilampo
(com interferências), a Pulga (saltitante), o Gafanhoto (ginasta medalhado), a
Formiga (trabalhadora), a Cigarra (artista em digressão), a Aranha (com a sua
engenharia de tecelagem), o Caracol (…). Todas são apresentadas com as suas
caraterísticas mais evidentes. Interessante, ser o caracol – molusco hermafrodita,
que reúne os caracteres do sexo feminino e do sexo masculino - que verbaliza o
problema: “Se observarmos o comportamento humano ao longo dos anos, verificamos
que, com a incompreensível sede de poder e de lucro, movidos pela ganância,
foram aniquilando o que de mais belo e puro existia no paraíso terrestre,
ignorando as regras de proteção do meio ambiente, como os mares, os rios, a
atmosfera (…). Contudo, não estão esgotadas as alternativas ” (p. 25). A
verbalização deste problema pelo Caracol, poderá, simbolicamente, ser
interpretado como uma expressão de um problema que afeta os dois géneros em
uníssono, ou seja a Humanidade.
-A linguagem é muito rica em adjetivação, no
uso de substantivos e verbos dinâmicos que
despertam no leitor todos os sentidos: o visual, o auditivo, o olfativo, o
tacto e o gosto. A linguagem é muito cuidada, mas descontraída com a apresentação de vocábulos e expressões de
linguagem popular (exemplos: surro, bicharoco, não cai em saco roto, não te amofines, com a
breca!...). O ritmo com que é utilizado o discurso direto ajuda a transmitir o dinamismo e a rapidez com que as
personagens atuam, tal a sua vontade de resolver o problema, que os conduz ao sonho.
-O “sonho” (p. 22) é apresentado com uma leveza de linguagem ligada à magia, contrastando com a realidade
circundante, considerado de “momento de devaneio e encantamento” (p. 23) pelo
narrador.
-Mas o problema é grande e não pode ser resolvido só pelos “insetos e bicharocos”. Apercebem-se que o problema
tem que ser resolvido a uma escala mais global, por todos os habitantes, e que
os Humanos se têm também que envolver na solução do mesmo: andar mais a pé,
utilizar a bicicleta e os transportes públicos, separar os lixos e promover a
reciclagem…
- A grande mensagem de ESPERANÇA de uma aldeia mais limpa e
mais saudável surge na conclusão da
história, com a mudança que se vai operando na Aldeia Fumegante que, “com o
empenho de todos os habitantes, melhoravam o ambiente”.
E houve festa durante dias! Houve fartura dos doces, das frutas, dos
sumos, dos salgadinhos e dos enchidos. Houve música, concertos de trompete,
violino, e a Cigarra também estava lá, acompanhando a sua maviosa (agradável, suave, doce, terna) voz. Finalmente podiam respirar. Respirar um
ar mais puro. (p. 29).
Onde
está a razão? Onde está a emoção? É na fusão e na teia desta dicotomia que “Insetos em Missão Ambiental” ganha a sua individualidade e marca a diferença.
E, para terminar, evoco o grande poeta Fernando Pessoa, que na sua “Autopsicografia” nos diz:
(Retirado da Internet a 9 janeiro 2016)
Mais uma vez, Marília,
parabéns pelo seu novo rebento! Certamente que irá dar frutos junto da
população a que se destina: as crianças…
Helena
Santos
Biblioteca
Municipal de Leiria, 9 de Janeiro de 2016