domingo, 23 de outubro de 2022

24 de outubro - Dia Nacional das Bibliotecas Escolares

 

Hoje, dia 24 de outubro, comemora-se do Dia Nacional das Bibliotecas Escolares! Um excelente dia para “visitares” a tua biblioteca e para requisitares um dos muitos livros que temos ao teu dispor.

Como este ano o tema do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares é “Ler para a paz e a harmonia globais”, convido-vos a ler três belos poemas que abordam esta temática: “Ode à Paz”, de Natália Correia; “A paz sem vencedores e sem vencidos”, de Sophia de Mello Breyner Andresen; “Peço a paz”, de Casimiro de Brito e “Todas as crianças da Terra”, de Sidónio Muralha.

Ode à Paz

Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,

Pelas aves que voam no olhar de uma criança,

Pela limpeza do vento, pelos atos de pureza,

Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,

Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,

Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,

Pela exatidão das rosas, pela Sabedoria,

Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,

Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,

Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,

Pelos aromas maduros de suaves outonos,

Pela futura manhã dos grandes transparentes,

Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,

Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas

Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,

Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,

Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.

Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,

Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,

Abre as portas da História,

deixa passar a Vida!

A Paz sem Vencedor e sem Vencidos

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Dual'

 

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos


 


Peço a Paz


Casimiro de Brito, in "Jardins de Guerra"

 

Peço a Paz

Peço a paz

e o silêncio

 

A paz dos frutos

e a música

de suas sementes

abertas ao vento

 

Peço a paz

e meus pulsos traçam na chuva

um rosto e um pão

 

Peço a paz

silenciosamente

a paz a madrugada em cada ovo aberto

aos passos leves da morte

 

A paz peço

a paz apenas

o repouso da luta no barro das mãos

uma língua sensível ao sabor do vinho

a paz clara

a paz quotidiana

dos actos que nos cobrem

de lama e sol

 

Peço a paz e o

Silêncio.

 

 

TODAS AS CRIANÇAS DA TERRA

 SIDÓNIO MURALHA


 

Um capacete de guerra tem um ar carrancudo
Muito mais bela é uma flor
Uma flor tem tudo
para falar de paz e de amor.

Mas se virarmos o capacete de guerra
ele será um vaso, e é bem capaz
de ter uma flor num pouco de terra
e falar de amor e de paz.

A paz é uma pomba que voa.
É um casal de namorados,
São os pardais de Lisboa
que fazem ninho nos telhados.

E é o riacho de mansinho
que saltita nas pedras morenas
e toda a calma do caminho
com árvores altas e serenas.

A paz é o livro que ensina.
É uma vela em alto mar
e é o cabelo dá menina
que o vento conseguiu soltar.


 

E é o trabalho, o pão, a mesa,
a seara de trigo, ou de milho,
e perto da lâmpada acesa
a mãe que embala o seu filho.

A paz é quando um canhão
muito feio e de poucas falas
sente bater um coração
e dispara cravos, em vez de balas.


E é o braço que dás
no dia em que tu partires,
e as gotas de chuvas da paz
no balanço do arco-íris.

É luar de lua cheia
tocando as casas e a rua,
são conchas, búzios na areia,
a paz é minha e é tua.

É o povo todo unido
no mundo, de norte a sul,
e é um balão colorido
subindo no céu azul.

A paz é o oposto da guerra,
é o sol, são as madrugadas,
e todas as crianças da terra
de mãos dadas, de mãos dadas,
de mãos dadas.

                                  Sidónio Muralha.


 



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