quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Verdades e Mitos sobre o Amor... "O Cântico dos Cânticos"

 Verdades e mitos do amor - a literatura ao serviço da sua construção

Esta ideia geral serviu de mote à organização da apresentação de O Cântico dos Cânticos, atribuído ao sábio Rei Salomão, destinada preferencialmente ao público do Secundário e organizada em conjunto com a BE/CRE.

Assim, no passado dia 15 de novembro, pelas 14h20, na Biblioteca, teve lugar a sessão “Verdades e mitos sobre o Amor - O Cântico dos Cânticos”, dinamizada pelo Professor Jaime Mendes, destinada à turma B, do 10.º Ano, no turno da aula de português, da responsabilidade da Profª Inês Santos.

O Cântico dos Cânticos é um dos mais belos poemas de amor, atribuindo a tradição a autoria ao famoso Rei Salomão, algures entre os séc. X ou IX a.c., embora se julgue que o texto só terá sido fixado como tal por volta dos séc. IV a III a. c.

O aspeto mais saliente e, porventura, mais surpreendente do livro é o seu género literário. O Cântico dos Cânticos é um poema lírico de tema amoroso que celebra encontros e desencontros entre dois amados, dando-lhes a palavra de forma alternada, num diálogo estruturado em forma narrativa e de encenação teatral. O tema, o género e algumas das imagens e metáforas utilizadas são comuns na poesia lírica dos povos vizinhos de Israel e Judá no Médio Oriente Antigo.

Este texto chegou até nós porque tanto no judaísmo como no cristianismo, se impôs, desde bastante cedo, a interpretação alegórica do Cântico dos Cânticos. O amor entre os amados, um amor habitado por uma paixão e desejo ardentes, é imagem ou metáfora do amor entre Deus e o povo de Israel ou entre Cristo e a Igreja. No caso do judaísmo, esta tradição de interpretação influenciou decisivamente o uso litúrgico deste livro no contexto da sinagoga: o Cântico dos Cânticos é lido publicamente na Páscoa, pois o Targum, isto é, a tradução em aramaico, sugere que o livro descreve metaforicamente a história do povo de Israel, nomeadamente a libertação do Egito (Ex 12). Esta leitura metafórica pode mesmo ter sido um dos principais motivos que levaram o judaísmo antigo a integrar este livro no cânone da Bíblia.

No cristianismo, a leitura alegórica do Cântico dos Cânticos remonta pelo menos à época de Hipólito de Roma, no início do séc. III d.C. Ao longo dos séculos, ao lado desta interpretação mais cristológica e eclesiológica do Cântico dos Cânticos, desenvolveram-se outras leituras: mariológicas, vendo na amada a imagem de Maria; místicas, vendo no livro uma alegoria da união mística entre Deus e a alma, e histórico-proféticas, anunciando alegoricamente as etapas da história da Igreja.

Nos últimos duzentos anos, a tendência tem sido para redescobrir a possibilidade de ler o Cântico dos Cânticos nos seus próprios termos, enquanto celebração do desejo apaixonado e do amor mútuo entre um homem e uma mulher. Trata-se, portanto, de poesia lírica de tema amoroso que celebra e descreve os avanços e recuos, o jogo de distância e intimidade que caracteriza a expressão do amor, na sua dimensão afetiva e sexual.

A sessão decorreu de forma harmoniosa e contou com a participação dos alunos que interagiram sempre que solicitado.

Prof. Jaime Mendes







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