Verdades e mitos do amor - a literatura ao serviço da sua construção
Esta ideia geral serviu de mote à
organização da apresentação de O Cântico
dos Cânticos, atribuído ao sábio Rei Salomão, destinada preferencialmente
ao público do Secundário e organizada em conjunto com a BE/CRE.
Assim, no passado dia 15 de novembro,
pelas 14h20, na Biblioteca, teve lugar a sessão “Verdades e mitos sobre o Amor -
O Cântico dos Cânticos”, dinamizada pelo Professor Jaime Mendes, destinada à
turma B, do 10.º Ano, no turno da aula de português, da responsabilidade da
Profª Inês Santos.
O Cântico dos Cânticos é um dos
mais belos poemas de amor, atribuindo a tradição a autoria ao famoso Rei
Salomão, algures entre os séc. X ou IX a.c., embora se julgue que o texto só
terá sido fixado como tal por volta dos séc. IV a III a. c.
O aspeto mais saliente e,
porventura, mais surpreendente do livro é o seu género literário. O Cântico dos
Cânticos é um poema lírico de tema amoroso que celebra encontros e desencontros
entre dois amados, dando-lhes a palavra de forma alternada, num diálogo
estruturado em forma narrativa e de encenação teatral. O tema, o género e algumas
das imagens e metáforas utilizadas são comuns na poesia lírica dos povos
vizinhos de Israel e Judá no Médio Oriente Antigo.
Este texto chegou até nós porque tanto
no judaísmo como no cristianismo, se impôs, desde bastante cedo, a
interpretação alegórica do Cântico dos Cânticos. O amor entre os amados, um
amor habitado por uma paixão e desejo ardentes, é imagem ou metáfora do amor
entre Deus e o povo de Israel ou entre Cristo e a Igreja. No caso do judaísmo,
esta tradição de interpretação influenciou decisivamente o uso litúrgico deste
livro no contexto da sinagoga: o Cântico dos Cânticos é lido publicamente na
Páscoa, pois o Targum, isto é, a tradução em aramaico, sugere que o livro
descreve metaforicamente a história do povo de Israel, nomeadamente a
libertação do Egito (Ex 12). Esta leitura metafórica pode mesmo ter sido um dos
principais motivos que levaram o judaísmo antigo a integrar este livro no
cânone da Bíblia.
No cristianismo, a leitura alegórica do
Cântico dos Cânticos remonta pelo menos à época de Hipólito de Roma, no início
do séc. III d.C. Ao longo dos séculos, ao lado desta interpretação mais
cristológica e eclesiológica do Cântico dos Cânticos, desenvolveram-se outras
leituras: mariológicas, vendo na amada a imagem de Maria; místicas, vendo no
livro uma alegoria da união mística entre Deus e a alma, e
histórico-proféticas, anunciando alegoricamente as etapas da história da
Igreja.
Nos últimos duzentos anos, a
tendência tem sido para redescobrir a possibilidade de ler o Cântico dos Cânticos
nos seus próprios termos, enquanto celebração do desejo apaixonado e do amor
mútuo entre um homem e uma mulher. Trata-se,
portanto, de poesia lírica de tema amoroso que celebra e descreve os avanços e
recuos, o jogo de distância e intimidade que caracteriza a expressão do amor,
na sua dimensão afetiva e sexual.
A sessão decorreu de forma harmoniosa e contou com a participação dos
alunos que interagiram sempre que solicitado.
Prof. Jaime Mendes
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