domingo, 17 de maio de 2015

No âmbito da comemoração do Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor...Professora Olga Correia

- Só lês porcarias.- lá estava a minha mãe a implicar comigo.
- Porcarias, não! Estes livros aos quadradinhos ensinam-me muita coisa- replicava eu.
 E era verdade. Se assim não fosse, como é que eu tinha conhecido o “Major Alvega?”, “ O Super-Homem”? “O Capitão América?” e “O tio Patinhas?” .
Agora que em lembrei do Tio Patinhas, não desdenhem. Com ele aprendi o valor do dinheiro. Forreta (mão de vaca, em português do Brasil), naquela altura, anos 70, o pato “triolionário”, quer isto dizer, mais do que três vezes milionário, ensinou-me que só poupando se tem. Atrás dele havia toda uma família de personagens que, desde a vóvó Donalda, ao Professor Pardal, e aos terríveis irmãos Metralha, fizeram parte do meu tempo dedicado à leitura, do qual nunca me arrependerei.
Um dia, e para provar que não lia “só porcarias”, fui buscar à estante um livro pesado. Hoje sei que era pesado no conteúdo mas apresentava-se leve no formato.  “Frei Luís de Sousa”, assim se chamava a obra que tinha em mãos. Teria aí, talvez, uns dez anos. Resolvi lê-lo. Não percebi nada. Daquela história trágica ficou-me uma frase: “quem és tu Romeiro?” – “Ninguém”! – foi a resposta. Uns anos mais tarde, outro livro, outra história, outro personagem, outro diálogo. Era Ulisses na caverna de Polifemo. Também a ele lhe perguntaram quem era, e ele respondeu : “Ninguém!”. Passei assim a dar muita importância  a esta palavra, pois, pelos vistos, era muito prática para respostas rápidas.
Entretanto, não tardou muito para me embrenhar nas “aventuras dos cinco” (às “dos sete” nunca liguei), e passei a apreciar a gastronomia inglesa desde o pequeno-almoço ao jantar. Sabia o que comiam os britânicos, e eu, passei a apreciar. Só não gostava de picles, de resto, acompanhava sempre bem as suas refeições, e nunca tive problemas de digestão. Ah! Também não engordava a ler. Além do mais, nem podia, pois também era detetive - sabia escrever com tinta invisível, só para dar um exemplo simples- daí que, era necessário correr muito na rua atrás de vilões perigosíssimos, pondo em prática o que líamos nestes livros que nos encantavam. Se não tínhamos dinheiro para os comprar, havia sempre quem emprestasse, e as bibliotecas tinham-nos para quem os quisesse ler.
Mais tarde, mas não muito mais, fiquei a saber muitos pormenores sobre a mitologia grega e entre tantas personagens, acabei por descobrir o poder das paixões. Só que estas, agora, eram lidas em coleções povoadas de gente ficcional mas que pareciam de carne e osso, tal era a veracidade dos dramas vividos entre tantas letras e parágrafos.
Milhares de folhas depois, descobri que não sou capaz de estar longe deste objeto quase sagrado; o livro. Do cheiro que carrega, ao poder que aquelas letras possuem para preencherem o meu dia a dia, sou “livrodependente” sem que daí advenha prejuízo. Muito pelo contrário. É um vício que não necessita de reabilitação.

                                                           Prof.ª Olga Correia 

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